segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Saudades

Como se explica ter saudades de alguém que você encontrou na última quinta-feira? Isso faz-me discorrer a respeito do tempo, do tempo para agricultura, o tempo para os medievos, o tempo para as que gestam, o tempo para os que estão em alto mar. O tempo, em seu tic-tac contínuo e contemporâneo. Sim, porque houve um tempo (rs) que não haviam tiques-taques, os sóis e as estrelas demarcavam os acontecimentos. Semelhante as comunidades ribeirinhas às margens do rio Madeira ou às margens do Juruá, onde os silêncios das horas são marcados de forma peculiar. "Casei-me na lua cheia de agosto, tive meu primeiro filho à beira do rio Purus". Essas demarcações do tempo não seguem a frenética corrida desse agora, quase on line, que vivemos. Essas, seguem o correr das águas.







O celular registra chamadas que devemos retornar (ou não), em três segundos chega uma mensagem. Nem podemos pensar. Não dispomos mais de tempo para a célebre questão: ser ou não ser? Vejo a hora receber um pedido de casamento por SMS. Já pensou? No meio do trânsito, o sinal vermelho em movimento descrente, enquanto troco uma música no rádio, o display do celular que está no consolo, pisca! Olho pra um lado e pro outro, afinal pode ser algo importante, embora o guarda não pense assim. Por isso todo cuidado é pouco, porque com os guardas, de nada serve meu poder de argumentação. Mas o sinal continua fechado, ainda tenho tempo para abrir o flip e ler: Casa comigo? Te amo! E logo tem alguém buzinando atrás de mim. Justo agora que estou a ver passarinho verde, ou melhor, o sinal é que está verde (rs)!
É assim, acelera-se tudo e devemos acompanhar essa brevidade. Devemos mesmo? Não sei até que ponto. O que sei é que hoje, em especial, hoje senti muitas, muitas saudades de alguém que encontrei na quinta-feira. Parece-me que o tempo para os que amam conta dobrado. É como se três dias equivalessem a seis dias. E amanhã, no final da manhã, poderei dizer-lhe: Puxa, há quanto tempo...rs...