Há muito escrevi esta derradeira carta, lembro dos dias ao teu lado, mãos dadas. Lembro de suas palavras ao dizer que haveria um momento tão glorioso no qual eu desejaria a morte. Fecho os olhos, tiraram-me a vida, estou indo e vou feliz por ter conhecido você. Lembro aqueles dias em que eu em minha insegurança apaixonada usava palavras como lança para ferir o único que eu não desejava como alvo da dor. E ao final de tudo chorava em teu ombro. Parece que foi ontem e já faz tanto tempo... Agora o que posso fazer com estes minutos que restam? Só lembrar de você para adormecer com o teu gosto nos lábios, ainda que seja um beijo lembrado, assim fiz noites e noites a fio. Para mim tudo parecia tão simples, tão certo, sentia-me forte. Resignada reconheço a finitude das coisas.
O coração bate cada vez com mais vagar e há uma vida a recordar. Não estás aqui, há anos não estás. Eu sei, afinal nunca dissestes que estaria. Mas isso não importa mais, não agora.
Aonde estive senti tua falta e tua presença, nas vidas que vivi, não lembro ao certo do dia em que traçamos caminhos diferentes e disso faço questão de esquecer. Resta pouco enfim e quero só os momentos felizes. Momentos depois do amor em teus braços, teus olhos...de um castanho tão comum e para mim, tão fascinante. Aprendi a ver as cores da vida através deles. Os traços de teu rosto...posso até senti-los outra vez. Meus filhos nunca compreenderam porque eu ficava a contemplar céu e mar até estes gerarem a primeira estrela. A estrela azulada, a amada vésper. Estavas certo, és fruto dos céus e dos mares. E eu com olhar de quem se perdeu, revivia. Momentos a sós, eu e você...em mim.
Olho ao redor, procuro teu sorriso, teus traços nos rostos dos meus...em vão. Alguém segura-me as mãos, chora. Por que? Está na hora, quase tudo fiz. Até amei um ser poeta com alma de pássaro. As pálpebras pesam terrivelmente, só alguns pedaços de vida desfilam rapidamente: amigos, viagens, fotografias, peças teatrais, filmes que não dividi com aquele que melhor do que eu, percebia a técnica, aquele que tudo indagava. Aquele a quem sempre fui translúcida. Minha coletânea de poesias que publiquei, pedaços meus, consequentemente seus. Certa vez, sem pretensão, entrei numa livraria e te encontrei versificado. Com teu livro nas mãos, mais uma vez, teus versos me fizeram chorar. E se possível, mais um pouco te amei.
És imagem vívida na memória e gravada – nem agora direi para sempre, não acreditarias!- a ferro nesta alma que se despede. Baixam as cortinas, meu corpo treme, tenho que ir, escuto os últimos aplausos...nos lábios delineia-se o último sorriso de quem agoniza reencontrando na imortalidade um pouco deste amor, penso, imortal. (14.06.98)
p.s.: Há vários roteiros para o espetáculo, como atriz não o determino, na maior parte do tempo sigo o texto. Nas entrelinhas contudo, crio o meu. Aonde chegarei? Não saberei até chegar.
O coração bate cada vez com mais vagar e há uma vida a recordar. Não estás aqui, há anos não estás. Eu sei, afinal nunca dissestes que estaria. Mas isso não importa mais, não agora.
Aonde estive senti tua falta e tua presença, nas vidas que vivi, não lembro ao certo do dia em que traçamos caminhos diferentes e disso faço questão de esquecer. Resta pouco enfim e quero só os momentos felizes. Momentos depois do amor em teus braços, teus olhos...de um castanho tão comum e para mim, tão fascinante. Aprendi a ver as cores da vida através deles. Os traços de teu rosto...posso até senti-los outra vez. Meus filhos nunca compreenderam porque eu ficava a contemplar céu e mar até estes gerarem a primeira estrela. A estrela azulada, a amada vésper. Estavas certo, és fruto dos céus e dos mares. E eu com olhar de quem se perdeu, revivia. Momentos a sós, eu e você...em mim.
Olho ao redor, procuro teu sorriso, teus traços nos rostos dos meus...em vão. Alguém segura-me as mãos, chora. Por que? Está na hora, quase tudo fiz. Até amei um ser poeta com alma de pássaro. As pálpebras pesam terrivelmente, só alguns pedaços de vida desfilam rapidamente: amigos, viagens, fotografias, peças teatrais, filmes que não dividi com aquele que melhor do que eu, percebia a técnica, aquele que tudo indagava. Aquele a quem sempre fui translúcida. Minha coletânea de poesias que publiquei, pedaços meus, consequentemente seus. Certa vez, sem pretensão, entrei numa livraria e te encontrei versificado. Com teu livro nas mãos, mais uma vez, teus versos me fizeram chorar. E se possível, mais um pouco te amei.
És imagem vívida na memória e gravada – nem agora direi para sempre, não acreditarias!- a ferro nesta alma que se despede. Baixam as cortinas, meu corpo treme, tenho que ir, escuto os últimos aplausos...nos lábios delineia-se o último sorriso de quem agoniza reencontrando na imortalidade um pouco deste amor, penso, imortal. (14.06.98)
p.s.: Há vários roteiros para o espetáculo, como atriz não o determino, na maior parte do tempo sigo o texto. Nas entrelinhas contudo, crio o meu. Aonde chegarei? Não saberei até chegar.